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Obsolescência programada: o que é e porque é importante conhecê-la

Visto por alguns como vilão e por outros como padrão de mercado, entenda o que é realmente a obsolescência programada, como ela surgiu e porque é importante conhecê-la.

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Yolanda Moretto

6 de mai de 2019

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    Talvez você já tenha ouvido falar do termo “obsolescência programada”, utilizado para descrever produtos e aparelhos que são produzidos por suas fabricantes com um tempo de vida útil já definido. Muitas pessoas consideram ele um grande mito do mercado, enquanto outras o veem como uma tática cruel das empresas para ganhar mais dinheiro.

    No entanto, existe muito mais história por trás de como esse conceito surgiu, como ele foi adotado por diversas empresas e qual é o impacto dele no mercado hoje. Além disso, saber como essa técnica já foi utilizada e ainda é adaptada por algumas empresas (sem cair no mito ou na teoria da conspiração) pode ajudar você a optar por modelos melhores na hora da compra e evitar problemas com seus produtos.

    Confira nosso artigo e saiba tudo sobre como funciona a obsolescência programada.

    Obsolescência programada: realidade ou mito?

    Para começar com uma resposta rápida: sim, a obsolescência programada é real e surgiu nos anos 1930 como uma estratégia para acelerar a venda de veículos, que estava entrando em estagnação nos Estados Unidos. Em pouco tempo, a estratégia passou a ser utilizada em outras empresas, das mais diversas áreas, e ao longo do tempo foi modificada e adaptada para atender públicos e situações cada vez mais específicas.

    A ideia principal do conceito era criar produtos com um tempo de vida útil delimitado e escolhido previamente, ou seja, ela ocorre apenas quando o produto é feito propositalmente para quebrar, se tornar obsoleto ou parar de funcionar após um período de tempo. Isso acaba forçando o consumidor a seguir comprando praticamente o mesmo produto diversas vezes, ao invés de aproveitar um único bem capaz de durar muitos anos e usar seu dinheiro para outros momentos.

    Por exemplo: quantas vezes você costuma trocar a lâmpada da sua casa? Hoje estima-se que as lâmpadas de LED possam durar até 40 mil horas, mas nos anos 1920, um cartel formado por fabricantes de lâmpadas nos Estados Unidos decidiram que elas deveriam ter, no máximo, 1.000 horas de vida útil, mesmo existindo tecnologia para fazer com que lâmpadas durassem anos.

    Conhecido como “cartel Phoebus”, que reuniu fabricantes de lâmpadas do mundo todo, o caso foi extremamente emblemático por ter sido um dos primeiros exemplos concretos do uso da obsolescência programada no mercado e foi desmascarado alguns anos depois devido a investigações jornalísticas e governamentais.

    Posteriormente, na metade da década de 2012, o termo voltou a ganhar o destaque devido ao grande crescimento envolvendo produtos portáteis, como laptops, smartphones e tablets. Houve muita especulação sobre o quanto a vida útil desses aparelhos estaria sendo diminuída devido à esse tipo de estratégia.

    A origem da obsolescência programada

    Imagem exemplificando o trecho de texto anterior

    Como comentados, o termo é uma estratégia real que já foi utilizada diversas vezes pelas mais diversas empresas. Mas vamos falar um pouco agora sobre como tudo surgiu.

    Tudo começou nos Estados Unidos, com Alfred P. Sloan, CEO da General Motors entre as décadas de 1920 e 1930. Além da competição acirrada com a Ford pelo controle do mercado automobilístico, ele também precisava resolver outro problema: as vendas de carros estavam caindo, pois os americanos, em geral, já possuíam carros e não precisavam mais comprar um novo automóvel. Nessa época, era esperado que os carros durassem muitos e muitos anos e a grande maioria dos consumidores não via sentido em trocá-los com frequência.

    Sloan e seus colegas da GM pensaram então em como convencer os consumidores da necessidade de sempre comprarem carros novos e assim surgiu pela primeira vez a estratégia da obsolescência programada (que na época não tinha esse nome, era “obsolescência dinâmica” para Sloan). A principal ideia da GM era mostrar os consumidores que um único carro não era suficiente, que era necessário se manter atualizado nas inovações tecnológicas e tendências do mercado.

    Duas medidas principais eram necessárias para passar a ideia. A primeira era fazer com que os carros deixassem de ser bens tão duráveis.

    O segundo ponto era tornar os produtos mais do que apenas produtos, mas uma forma de expressão da personalidade e do status de cada pessoa. A estratégia não apenas funcionou como, em alguns anos, fez as vendas da GM ultrapassarem as da Ford, que até então era líder do mercado.

    O outro lado da moeda

    O próprio Henry Ford foi um dos empresários que foi contra a ideia. Ele acreditava que os carros deveriam ser seguros, bons e duráveis, servindo diretamente ao seu propósito de transporte. Eventualmente, no entanto, ele também precisou adaptar suas técnicas para poder se manter no mercado, entre elas esteve o fato dele trocar seu design de chassi monobloco (utilizado pela maioria das montadoras europeias), mais leve, porém mais difícil de modificar, por um chassi cujo corpo era separado e montado por cima de uma estrutura relativamente rígida, que transporta o motor e transmissão.

    Obsolescência programada é a mesma coisa que má qualidade?

    Imagem exemplificando o trecho de texto anterior

    Obsolescência programada e má qualidade não são a mesma coisa e é importante deixar essa diferença bem clara. Má qualidade está ligada ao funcionamento e resistência do produto, pode ser uma falha de fábrica ou de design do produto que faz com que seu funcionamento seja prejudicado de alguma forma e, geralmente, não é algo proposital da fabricante.

    Já a obsolescência programada, como mencionamos, é uma estratégia: fazer o produto funcionar corretamente e de forma satisfatória até determinado momento de sua vida útil, fazendo depois com que ele precise ser trocado. Ela pode se apresentar de forma mais sutil ou mais brusca.

    Um bom exemplo é mostrado no documentário “The Light Bulb Conspiracy” (ou “a conspiração da lâmpada elétrica”, em tradução livre), feito nos Estados Unidos. Nele, é mostrado um modelo de impressora a jato de tinta que apresentava um problema especialmente desenvolvido pela fabricante para tornar o produto inutilizável: após um determinado número de páginas impressas a impressora pararia de funcionar devido a um chip instalado na máquina que contava a quantidade das páginas impressas, fazendo com que o equipamento travasse. Sem conserto possível, o usuário era forçado a comprar um novo produto.

    No caso de má qualidade, um exemplo seria o caso das baterias que explodiam no smartphone Samsung Galaxy Note 7 com poucos dias de uso. A empresa precisou fazer um recall dos aparelhos e reembolsar os usuários.

    Tipos de obsolescência

    Em geral, divide-se a estratégia de obsolescência programada entre dois tipos: o primeiro, a obsolescência programa em si, é a que já mencionamos, de fazer com que o produto fique incapaz de continuar funcionando após certo tempo, seja por motivos técnicos ou físicos colocados em sua fabricação.

    O outro tipo é chamado de obsolescência percebida e tem a ver com o fator mais emocional e psicológico que temos com os objetos. Por exemplo, ter um smartphone que ainda está funcionando perfeitamente, mas ao ver que foi lançado um novo modelo, ter vontade de comprá-lo. Esse tipo de obsolescência é muito estimulado pela publicidade.

    A obsolescência programada é permitida por lei?

    Imagem exemplificando o trecho de texto anterior

    Essa é uma pergunta mais complicada de se responder. Em geral, as práticas de obsolescência programada são fortemente desestimuladas pelas leis de proteção ao consumidor e ONGs que atuam no setor. A própria obrigatoriedade da garantia de 12 meses para eletrônicos é uma forma de forçar os fabricantes a assegurar um funcionamento mínimo dos aparelhos. Mas, em geral, é muito difícil para os governos e instituições identificarem casos específicos de obsolescência programada.

    Mas para tentar diminuir os possíveis danos causados ao consumidor, no Brasil, diversas leis gerais tratam do tema, estabelecendo obrigações a fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos.

    O Código de Defesa do Consumidor é um dos exemplos de legislações que evitam, entre outras coisas, o abuso dessa estratégia pelas empresas, exigindo que as fabricantes se responsabilizem por alguns tipos específicos de defeitos.

    Além das garantias, você também pode tomar alguns cuidados, como procurar reviews do produto na internet, para descobrir se ele tem algum tipo de defeito comum ou de vício oculto. O Fórum do Promobit é um dos espaços em que você pode tirar essas dúvidas.


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