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Artigos e Matérias
Breve guia para quem quer comprar uma bicicleta
por Luiz Augusto Estacheski (@luiz_estacheski)
12 de fevereiro de 2021 às 19:10
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Nos últimos dias tenho visto vários anúncios de bicicletas aqui no Promobit e neste anúncios aquela clássica pergunta: e aí, tá valendo?
Nessa toada, pensei em criar este breve guia para quem vê estes anúncios, mais especificamente para quem não manja nada ou quase nada sobre bicicletas. Vale destacar que não sou nenhum especialista ou grande entendido no assunto, o que vou colocar abaixo parte de uma experiência de mais de 10 anos andando de bike tanto na cidade, quanto em trilhas leves.
Vamo lá...
Primeiro de tudo: assim como um carro ou um computador, uma bicicleta é um conjunto de partes individuais, estas partes são feitas por diferentes fabricantes e cada fabricante representa um padrão de qualidade diferente. Os pneus e câmaras podem ser, por exemplo, Kenda ou Pirelli, os freios podem ser Shimano ou GTS, o quadro pode ser Caloi, Sundown ou Monark, as marchas podem ser Shimano ou SRAM, enfim... estou dizendo isso para apontar para o fato que nos anúncios, o nome do fabricante do quadro geralmente é colocado como a marca daquela bicicleta - e isso não está totalmente errado.
Quando vemos estas bicicletas já montadas (como as anunciadas aqui no Promobit), o responsável pela montagem geralmente é o fabricante do quadro, ou o próprio varejista/bicicletaria quando se trata de algum quadro ou conjunto de peças não tão comuns. Este é o exemplo de marcas nacionais, como a Caloi, que fabricam o seu quadro e aí acrescentam as outras peças feitas por outras fabricantes.
E é aí que tá o problema: geralmente estas bicicletas vendidas por grandes varejistas focam, obviamente, no grande público, público este que geralmente quer só começar a andar de bicicleta para iniciar um exercício físico, ou para locomover em curtas e médias distâncias, ou para diversão esporádica, mas que nunca se preocupou em entender o como uma bicicleta é montada e nem qual a origem de cada uma daquelas peças que estão ali. É para esse tipo de público que estou escrevendo este breve guia.
Por isso que estas bicicletas geralmente possuem itens que chamam muita atenção, como suspensão dianteira e freios a disco, mas que para 90% das pessoas não farão diferença alguma e só estão ali para chamar atenção (além deixar a bicicleta mais pesada e cara).
A suspensão dianteira (e mais ainda a traseira) e freios a disco possuem utilidades específicas e, se o seu interesse for pedalar na cidade ou no máximo fazer trilhas leves (como eu acredito que seja o interesse da grande maioria das pessoas), então estes itens são completamente dispensáveis.
Vou explicar começando pelos freios. Existem, basicamente, três tipos de freios para bicicleta: os de ferradura, os v-breake e os a disco (há algum tempo também existiam o do tipo "cantilever", mas este deixou de ser fabricado ou só é encontrado em bicicletas muito baratas). Os freios do tipo ferradura são muito usados em bicicletas do tipo speed, aquelas bem magrinhas usadas para pedalar rápido em estradas. Já o v-breake é usado em uma maior gama de tipos de bicicleta, desde bicicletas de passeio até algumas do tipo mountain bike mais leves. Por fim o freio a disco é indicado para bicicletas de mountain bike que precisarão passar por trilhas de média e alta intensidade.
O v-breake é ótimo para uma enorme gama de situações por que ele é barato, possui baixa manutenção e é leve. O problema do v-breake é quando a roda molha (em uma chuva ou rio, por exemplo) e aí a sapata do freio perde aderência, fazendo com que você também perca capacidade de frenagem. É aí que o mora a vantagem do freio a disco: ele não perde capacidade de frenagem em nenhuma situação, mas os problemas dele são as vantagens do v-breake: o freio a disco é caro, é preciso manter uma manutenção constante e ele é pesado. Vale destacar que em boas condições e se bem regulados, tanto o v-breake quanto o freio a disco possuem capacidades de frenagem muito semelhante, senão iguais.
Já os amortecedores são um caso diferente (até existem alguns tipos diferentes de amortecedores, mas vou deixar isso de lado por que não nos importa aqui). O problema das suspensões é que para uma suspensão ser realmente boa, ela provavelmente custará um preço um tanto quanto alto. Mas o que é uma suspensão boa? Bom, para mim uma boa suspensão é uma peça que consiga absorver os impactos de terrenos irregulares, dando conforto ao pedalar, e ainda assim não precise de uma manutenção tão frequente, muito menos quebre com facilidade. A questão é que em poucas situações você realmente vai precisar de uma suspensão, na maioria das vezes o seu pneu e suas pernas e braços levemente dobrados/soltos são o suficiente para absorver os impactos do terreno.
E é aí o grande problema desta bicicletas já montadas e vendidas por grandes varejistas: um conjunto de freio a disco de qualidade custa, por baixo, uns R$400,00 e uma suspensão de qualidade custa, também por baixo, uns R$500,00. Aí fica difícil você fechar uma bicicleta de qualidade minimamente razoável por uns R$1.300 ou R$1.500. É óbvio que algumas peças serão de qualidade muito baixa e com certeza darão dor de cabeça em pouco tempo de uso.
Por isso minha primeira recomendação: esqueça freios a disco e suspensão, você pode viver sem estas peças, e para não ter dor de cabeça vai ter que comprar algo de qualidade e caro caso insista em ter tais peças.
Agora vamos falar do quadro, o "esqueleto" da bicicleta. Aqui o melhor que posso fazer sem entrar em grandes detalhes é mencionar que os quadros são fabricados geralmente em 4 tipos de materiais: aço-carbono, aço-carbono-cromo-molibdênio (ou: cromoly), alumínio e fibra de carbono. O aço-carbono é usado em quadros baratos e tem a desvantagem de ser pesado e não tão resistente quanto os demais. O cromoly por sua vez é uma liga que compete com o alumínio, por que ele é mais resistente que o alumínio, apesar de ser mais pesado, só que ele é tão mais resistente que geralmente é usado muito menos material para se fabricar o quadro, fazendo com que as vezes um quadro de cromoly tenha o mesmo peso que um quadro de alumínio com a mesma resistência. Isso faz com que os quadros de cromoly possam ser mais "enxutos" que os de alumínio e com isso se tenha uma sensação de maior conforto ao pedalar. O alumínio por sua vez é uma liga muito leve e cada vez mais barata. Já a fibra de carbono é extremamente resistente, muito leve e muito cara.
Hoje em dia a maior parte dos quadros vendidos são de aço-carbono (nos casos dos muito baratos) ou de alumínio. O cromoly foi muito usado nos anos 1980-1990 e perdeu espaço com a popularização do alumínio. Já a fibra de carbono é usada apenas em quadros especiais para atletas de alto nível.
Além do material, é importante prestar atenção também no tamanho do quadro. Não vou entrar em detalhes aqui, mas mais ou menos como sapatos, o tamanho do quadro também depende do tamanho das suas pernas, dos seus braços e da sua altura. Basta você dar um google por "tamanho adequado de quadro de bicicleta" e vai encontrar vários artigos a respeito.
A minha recomendação com relação ao quadro é que ele seja de alumínio e que ele esteja adequado com o seu biotipo. Um quadro maior ou menor que o adequado pode lhe causar desconforto ao pedalar.
Por fim, as peças da relação pedal-correia-catracas-marchas-rolamentos. Por incrível que possa parecer, as peças mais caras da bicicleta estão aqui. Isso por que é aqui onde ocorre o maior desgaste e onde toda a força do pedalar será aplicada, fazendo com que estes itens estejam constantemente sobre estresse e não possam apresentar avarias.
São muitas as peças aqui envolvidas para se comentar das características de cada uma, por isso vou me ater a uma solução fácil: marca é qualidade, e neste caso uma marca que consegue aliar um preço razoável a uma boa qualidade, é a Shimano. Quando for olhar as peças de uma bicicleta preste atenção para a marca e modelo de todos os componentes, mas principalmente para os componentes do "grupo" (como é conhecido o conjunto de pedivela, correia, cassete e marchas). Se a marca deles for Shimano, pode confiar que eles terão uma qualidade mínima aceitável.
Ainda existem uma série de outras peças relevantes, como as rodas, mas como a proposta aqui é ser geral e breve, basta finalizar dizendo que as peças de bicicleta buscam duas coisas: alta resistência e baixo peso, quanto mais alta a resistência e mais baixo o peso, mais cara um peça irá custar. Não tem mágica.
Se vocês busca sua primeira bicicleta, se seu interesse é andar na cidade para se exercitar ou a transporte, se você busca uma pequena diversão, eu sinceramente recomendo que esqueça suspensões e freios a disco, busque um quadro leve e adequado ao seu tamanho, busque por um grupo Shimano das linhas Tourney ou Acera (as linhas de entrada da Shimano), busque por rodas de alumínio e pneus um pouco mais grossos, como os 26x2.20 ou 26x2.35.
Caso tenha dúvidas ou algo para complementar, só comentar aí.
Abraços.
Nessa toada, pensei em criar este breve guia para quem vê estes anúncios, mais especificamente para quem não manja nada ou quase nada sobre bicicletas. Vale destacar que não sou nenhum especialista ou grande entendido no assunto, o que vou colocar abaixo parte de uma experiência de mais de 10 anos andando de bike tanto na cidade, quanto em trilhas leves.
Vamo lá...
Primeiro de tudo: assim como um carro ou um computador, uma bicicleta é um conjunto de partes individuais, estas partes são feitas por diferentes fabricantes e cada fabricante representa um padrão de qualidade diferente. Os pneus e câmaras podem ser, por exemplo, Kenda ou Pirelli, os freios podem ser Shimano ou GTS, o quadro pode ser Caloi, Sundown ou Monark, as marchas podem ser Shimano ou SRAM, enfim... estou dizendo isso para apontar para o fato que nos anúncios, o nome do fabricante do quadro geralmente é colocado como a marca daquela bicicleta - e isso não está totalmente errado.
Quando vemos estas bicicletas já montadas (como as anunciadas aqui no Promobit), o responsável pela montagem geralmente é o fabricante do quadro, ou o próprio varejista/bicicletaria quando se trata de algum quadro ou conjunto de peças não tão comuns. Este é o exemplo de marcas nacionais, como a Caloi, que fabricam o seu quadro e aí acrescentam as outras peças feitas por outras fabricantes.
E é aí que tá o problema: geralmente estas bicicletas vendidas por grandes varejistas focam, obviamente, no grande público, público este que geralmente quer só começar a andar de bicicleta para iniciar um exercício físico, ou para locomover em curtas e médias distâncias, ou para diversão esporádica, mas que nunca se preocupou em entender o como uma bicicleta é montada e nem qual a origem de cada uma daquelas peças que estão ali. É para esse tipo de público que estou escrevendo este breve guia.
Por isso que estas bicicletas geralmente possuem itens que chamam muita atenção, como suspensão dianteira e freios a disco, mas que para 90% das pessoas não farão diferença alguma e só estão ali para chamar atenção (além deixar a bicicleta mais pesada e cara).
A suspensão dianteira (e mais ainda a traseira) e freios a disco possuem utilidades específicas e, se o seu interesse for pedalar na cidade ou no máximo fazer trilhas leves (como eu acredito que seja o interesse da grande maioria das pessoas), então estes itens são completamente dispensáveis.
Vou explicar começando pelos freios. Existem, basicamente, três tipos de freios para bicicleta: os de ferradura, os v-breake e os a disco (há algum tempo também existiam o do tipo "cantilever", mas este deixou de ser fabricado ou só é encontrado em bicicletas muito baratas). Os freios do tipo ferradura são muito usados em bicicletas do tipo speed, aquelas bem magrinhas usadas para pedalar rápido em estradas. Já o v-breake é usado em uma maior gama de tipos de bicicleta, desde bicicletas de passeio até algumas do tipo mountain bike mais leves. Por fim o freio a disco é indicado para bicicletas de mountain bike que precisarão passar por trilhas de média e alta intensidade.
O v-breake é ótimo para uma enorme gama de situações por que ele é barato, possui baixa manutenção e é leve. O problema do v-breake é quando a roda molha (em uma chuva ou rio, por exemplo) e aí a sapata do freio perde aderência, fazendo com que você também perca capacidade de frenagem. É aí que o mora a vantagem do freio a disco: ele não perde capacidade de frenagem em nenhuma situação, mas os problemas dele são as vantagens do v-breake: o freio a disco é caro, é preciso manter uma manutenção constante e ele é pesado. Vale destacar que em boas condições e se bem regulados, tanto o v-breake quanto o freio a disco possuem capacidades de frenagem muito semelhante, senão iguais.
Já os amortecedores são um caso diferente (até existem alguns tipos diferentes de amortecedores, mas vou deixar isso de lado por que não nos importa aqui). O problema das suspensões é que para uma suspensão ser realmente boa, ela provavelmente custará um preço um tanto quanto alto. Mas o que é uma suspensão boa? Bom, para mim uma boa suspensão é uma peça que consiga absorver os impactos de terrenos irregulares, dando conforto ao pedalar, e ainda assim não precise de uma manutenção tão frequente, muito menos quebre com facilidade. A questão é que em poucas situações você realmente vai precisar de uma suspensão, na maioria das vezes o seu pneu e suas pernas e braços levemente dobrados/soltos são o suficiente para absorver os impactos do terreno.
E é aí o grande problema desta bicicletas já montadas e vendidas por grandes varejistas: um conjunto de freio a disco de qualidade custa, por baixo, uns R$400,00 e uma suspensão de qualidade custa, também por baixo, uns R$500,00. Aí fica difícil você fechar uma bicicleta de qualidade minimamente razoável por uns R$1.300 ou R$1.500. É óbvio que algumas peças serão de qualidade muito baixa e com certeza darão dor de cabeça em pouco tempo de uso.
Por isso minha primeira recomendação: esqueça freios a disco e suspensão, você pode viver sem estas peças, e para não ter dor de cabeça vai ter que comprar algo de qualidade e caro caso insista em ter tais peças.
Agora vamos falar do quadro, o "esqueleto" da bicicleta. Aqui o melhor que posso fazer sem entrar em grandes detalhes é mencionar que os quadros são fabricados geralmente em 4 tipos de materiais: aço-carbono, aço-carbono-cromo-molibdênio (ou: cromoly), alumínio e fibra de carbono. O aço-carbono é usado em quadros baratos e tem a desvantagem de ser pesado e não tão resistente quanto os demais. O cromoly por sua vez é uma liga que compete com o alumínio, por que ele é mais resistente que o alumínio, apesar de ser mais pesado, só que ele é tão mais resistente que geralmente é usado muito menos material para se fabricar o quadro, fazendo com que as vezes um quadro de cromoly tenha o mesmo peso que um quadro de alumínio com a mesma resistência. Isso faz com que os quadros de cromoly possam ser mais "enxutos" que os de alumínio e com isso se tenha uma sensação de maior conforto ao pedalar. O alumínio por sua vez é uma liga muito leve e cada vez mais barata. Já a fibra de carbono é extremamente resistente, muito leve e muito cara.
Hoje em dia a maior parte dos quadros vendidos são de aço-carbono (nos casos dos muito baratos) ou de alumínio. O cromoly foi muito usado nos anos 1980-1990 e perdeu espaço com a popularização do alumínio. Já a fibra de carbono é usada apenas em quadros especiais para atletas de alto nível.
Além do material, é importante prestar atenção também no tamanho do quadro. Não vou entrar em detalhes aqui, mas mais ou menos como sapatos, o tamanho do quadro também depende do tamanho das suas pernas, dos seus braços e da sua altura. Basta você dar um google por "tamanho adequado de quadro de bicicleta" e vai encontrar vários artigos a respeito.
A minha recomendação com relação ao quadro é que ele seja de alumínio e que ele esteja adequado com o seu biotipo. Um quadro maior ou menor que o adequado pode lhe causar desconforto ao pedalar.
Por fim, as peças da relação pedal-correia-catracas-marchas-rolamentos. Por incrível que possa parecer, as peças mais caras da bicicleta estão aqui. Isso por que é aqui onde ocorre o maior desgaste e onde toda a força do pedalar será aplicada, fazendo com que estes itens estejam constantemente sobre estresse e não possam apresentar avarias.
São muitas as peças aqui envolvidas para se comentar das características de cada uma, por isso vou me ater a uma solução fácil: marca é qualidade, e neste caso uma marca que consegue aliar um preço razoável a uma boa qualidade, é a Shimano. Quando for olhar as peças de uma bicicleta preste atenção para a marca e modelo de todos os componentes, mas principalmente para os componentes do "grupo" (como é conhecido o conjunto de pedivela, correia, cassete e marchas). Se a marca deles for Shimano, pode confiar que eles terão uma qualidade mínima aceitável.
Ainda existem uma série de outras peças relevantes, como as rodas, mas como a proposta aqui é ser geral e breve, basta finalizar dizendo que as peças de bicicleta buscam duas coisas: alta resistência e baixo peso, quanto mais alta a resistência e mais baixo o peso, mais cara um peça irá custar. Não tem mágica.
Se vocês busca sua primeira bicicleta, se seu interesse é andar na cidade para se exercitar ou a transporte, se você busca uma pequena diversão, eu sinceramente recomendo que esqueça suspensões e freios a disco, busque um quadro leve e adequado ao seu tamanho, busque por um grupo Shimano das linhas Tourney ou Acera (as linhas de entrada da Shimano), busque por rodas de alumínio e pneus um pouco mais grossos, como os 26x2.20 ou 26x2.35.
Caso tenha dúvidas ou algo para complementar, só comentar aí.
Abraços.
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